Quem é a doula?
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A doula é uma profissional escolhida pela mulher para dar assistência à mulher durante o período gravídico-puerperal, que compreende a gestação, o parto e o pós-parto.
Vale salientar que as doulas estudam MUITO para saber como funciona a fisiologia da gestação e do parto, quais as intercorrências que uma gravidez pode ter, como funciona o corpo em um trabalho de parto, além de entender o básico da amamentação; JUSTAMENTE para saber qual o seu limite e qual o momento de encaminhar a outra profissional, pois é uma profissional (na maioria das vezes) sem formação técnica na área da saúde e mesmo que ela tenha formação na saúde ela não faz nenhum tipo de procedimento que seja específico da enfermagem ou da medicina.
Ela não é, nem exerce, funções técnicas, mas sabe da importância e diferença que faz neste momento dar as mãos para a mulher que está parindo, olhar nos olhos dela e refletir a força que ela tem, ajuda-la com palavras seguras e incentivadoras nos momentos em que pensar em desistir, sugerir alteração de posições, movimentos, aliviar as dores com toques e calor, acolher os choros e sentimentos que vêm à tona.Também atua em conjunto com o(a) acompanhante da gestante, auxiliando-o(a), afinal ela também é figura importante neste cenário.
Durante a gestação, a doula prepara a gestante para o parto, física e emocionalmente, fornecendo informações baseadas em evidências, auxiliando na escolha de uma equipe que atenda às expectativas da família, ajudando a construir o Plano de Parto, fornecendo materiais com as evidências atualizadas, indicando outros profissionais de acordo com as necessidades individuais de cada mulher (fisio, psico, nutri, acupunturista), acolhendo os medos e dúvidas que surgem com maior força no final da gestação. Algumas doulas organizam chá de bênçãos, criam rituais de mentalização e centramento para baixar a ansiedade.
Durante o trabalho de parto e o parto, a doula oferece acolhimento, encorajamento, tranquilidade, conforto, espera, respeito. Utiliza métodos não farmacológicos de alívio da dor fornecendo bem-estar físico e emocional à mulher para que ela ultrapasse esse portal de grande transformação confiante no seu corpo e no seu poder de parir.
Doula é a pessoa que olha no olho e enfrenta os desafios junto com a gestante; pois ela acredita e apoia os desejos da mulher. É quem acredita quando ninguém mais crê. É a pessoa que segura a mão daquela mulher que está buscando um parto respeitoso através de um processo e que sem dizer uma palavra deixa claro a expressão “estamos juntas!”.
Cada doula encontra uma forma de se conectar com as gestantes que a procuram através de terapias holísticas e complementares. Pode ser reiki, florais, homeopatia, dança, yoga... isso soma ao trabalho para durante a gestação estreitar o vínculo entre doula e doulanda (como chamamos as gestantes que atendemos) e de quebra amenizar a intensidade do dia do nascimento daquela mãe e daquele bebê.
Muito mais do que só massagem, a doula utiliza as técnicas que aprendeu para ajudar o bebê a fazer as rotações e descidas necessárias para o momento de nascer, sugere movimentos e posições para aliviar a dor além de estar de corpo e alma presentes dando força para a mulher seguir o seu plano de parto e trilhar o melhor caminho a partir do que desejou antes e principalmente durante o trabalho de parto.
No pós-parto, a doula auxilia no primeiro contato com o recém-nascido e orienta brevemente sobre a amamentação, com o foco no estabelecimento do vínculo mãe-bebê; também pode oferecer escuta para a elaboração da experiência de parto vivida, rituais de fechamento energético, auxílio na organização da rede de apoio daquela família, e acolhimento em rodas de puérperas para que não se sintam sozinhas na caminhada para superarem os desafios da maternidade.
Ter o apoio de uma doula pode trazer resultados surpreendentes! A diminuição de intervenções desnecessárias e complicações obstétricas, a diminuição da ansiedade, o não uso de analgesia e, consequentemente, menos cesarianas, além de uma experiência mais satisfatória do parto e da amamentação, com maior vínculo entre a dupla no início da jornada.
Sempre bom lembrar que a doula é profissional recomendada pela OMS e pelo Ministério da Saúde, e também é citada nas evidências científicas mais atualizadas, e que consta na tabela de Classificação Brasileira de Ocupações, além de ser reconhecida através de Leis Municipais e Estaduais no Brasil.
A OMS diz: " ...uma prestadora de serviços que recebeu um treinamento básico sobre parto e que está familiarizada com uma ampla variedade de procedimentos de assistência..."
"Fornece apoio emocional, consistindo de elogios, reafirmações, medidas para aumentar o conforto materno, contato físico, como friccionar as costas da parturiente e segurar suas mãos, explicações sobre o que está acontecendo durante o trabalho de parto e é uma presença amiga constante."
Mas não só a OMS que recomenda a Doula. O Ministério da Saúde também. Ele diz: "... a presença de uma Doula também é bastante apropriada, visto que ela oferece suporte físico e emocional à parturiente, transmitindo confiança, segurança e suporte afetivo, físico e emocional."
"O apoio da Doula, além de melhorar a vivência experimentada pelas mulheres que dão à luz, parecem ter uma influência direta e positiva sobre a saúde das mulheres e dos recém-nascidos. Devem, portanto, ser estimuladas em todas as situações possíveis."
Por muitos anos acredito que ainda teremos que escrever e reescrever, falar e reforçar sobre o papel da doula na assistência ao parto.
A doula não tem papel técnico na assistência à gestante.
E isso deve ser claro, desde a gestação. Se alguma gestante me envia no whats imagem de exames ou pergunta qual remédio tomar para rinite, me nego a responder. Não é meu papel. Eu não estudei pra ler exames e prescrever remédios.
Se a gestante chamar pra falar que está ansiosa com a aproximação da data provável de parto, que está tendo dificuldade de dormir por dores na lombar, que não acha posição para se acomodar, ai sim temos estudo e preparo para auxiliá-la.
Se na na hora do parto o médico chega e diz: “Indicação de cesariana, por xyz motivo!”. Não é hora de eu “ter opinião”. A escolha do obstetra deve ser feita com clareza durante a gestação e uma vez feita, no cenário de parto não é a doula que vai fazer ativismo dentro de instituição. Durante a gestação, pegue os índices de cesariana do seu médico, elabore questionamentos no consultório para entender em que time ele joga, veja se ele realmente aceita e apoia a presença da tua doula ou se ele só “engole” porque o hospital permite a entrada e realmente olhe com um olhar atento e crítico durante a gestação para ter certeza que não é melhor trocar de médico.
Ter conflitos com o médico durante a gestação, sacar que ele não está alinhado contigo nas escolhas e buscar uma doula pra te “defender” na HORA DO PARTO?! Não funciona assim, ou pelo menos não deveria.
Nós estamos lá para auxiliar que a mulher tenha uma experiência de parto com conforto em relação à dor e apoio emocional para ela fazer sua jornada de parto, não como advogadas que vão discutir e gerar "treta" durante um expulsivo.
Informamos ao casal durante a gestação o que pode ser escolha e do que faz parte de indicações muitas vezes da OMS, MPS e evidências científicas. O marido até pode questionar e cobrar na hora, mas penso que o ideal é que nem isso seja necessário, porque se o marido está precisando brigar na hora do parto, significa que algo não foi bem alinhado e está sendo desrespeitado.
Lutem ao máximo para conversar tudo no consultório, lá é o lugar da “DeErre” com o médico.
Uma doula fica pra sempre marcada na memória daquele dia: os aromas, toques, olhares e sensações. É história que fica marcada em ambos corações: da gestante, do bebê, de quem acompanhou e especialmente no coração da doula que foi convidada para prestigiar uma vida estreando no mundo.
Acho que agora deu para entender que Doula não é moda, que é sim uma profissional que faz parte de todo corpo de assistência ao parto e nascimento. Que ela não pode ser substituída por companheiro(a), mãe, enfermeira, médico(a).
E tu? Já tens uma doula pra chamar de sua?
Por
AnaLu Muñoz - @analumunoz_materna
Andrea Gabech - @remaenascer
Gisele Abreu - @giselecabreu
Verônica Christimann - @cafecomfraldas